Santuário de Nossa Senhora da Boa Nova

Alandroal Terena São Pedro

A Capela da Boa Nova, também conhecida por Santuário de Nossa Senhora da Boa Nova, situa-se em Terena (Alandroal | Évora).

Trata-se de um santuário mariano de grande antiguidade que, segundo alguns autores, terá resultado da cristianização de remotos cultos pagãos, tendo em conta o "epicentro" dos vestígios de culto ao deus pré-romano (indígena) Endovélico que ainda hoje subsistem nas imediações da vila de Terena – o santuário natural da Rocha da Mina e o templo romano de São Miguel da Mota.

As referências históricas a este santuário remontam ao século XIII, uma vez que nas Cantigas de Santa Maria, do Rei Afonso X de Castela, existem algumas composições dedicadas a Santa Maria de Terena.

Erigido no século XIV, este santuário persiste como uma jóia da arquitectura religiosa portuguesa, chegando praticamente intacto aos nossos dias: um templo-fortaleza de planta cruciforme, rara em Portugal, construído em forte cantaria granítica, coroada de ameias muçulmanas. Nas fachadas norte, sul e poente, abrem-se pórticos de arcos ogivais góticos e estreitas frestas medievais, encimados por balcões defensivos com matacães (por onde se jorravam líquidos a ferver, em caso de ataque), decorados com pedras de armas reais portuguesas. O conjunto da fachada principal é ainda enobrecido por um singelo campanário, acrescentado no século XVIII. Originalmente o templo terá sido propriedade do padroado da Ordem de Avis, passando entretanto para a posse dos Condes de Vila Nova (de Portimão).

Contrastando com o pesado aspecto exterior, o interior surpreende-nos pela singeleza das linhas góticas e pelo aspecto amplo da nave, de planta de cruz grega, coberta por abóbadas de arcos quebrados. Os alçados da nave foram decorados no século XIX com um rodapé escaiolado e pinturas murais realizadas pelo pintor Silva Rato, de Borba, representando santos da devoção popular alentejana. O púlpito, de alvenaria, é da mesma época e levanta-se volumoso no transepto da igreja. Os altares colaterais, de São Brás e Santa Catarina, são de talha dourada do século XVIII.

Mais interessante é a decoração do presbitério, cuja abóbada está coberta de pinturas fresquistas representando os reis da primeira dinastia, até D. Afonso IV, e diversas cenas do Apocalipse de São João, obra encomendada pelos Condes de Vila Nova, Comendadores da Ordem de Avis. O retábulo, do século XVI, conserva entalhados belíssimas tábuas de estilo maneirista flamenguizante, representando a Anunciação e Assunção da Virgem, o Presépio, o Pentecostes e a Ressurreição de Cristo. Ao centro, em maquineta dourada , expõe-se a veneranda imagem de Nossa Senhora da Boa Nova, de roca e com o Menino Jesus ao colo. Nesta capela conservou-se acesa, durante séculos, a lâmpada votiva dos Duques de Bragança. Neste espaço, subsistem ainda algumas campas antigas e uma ara votiva ao deus Endonvélico, proveniente do templo de São Miguel da Mota (ver imagens).

A origem da invocação à Senhora da Boa Nova parece estar ligada à lenda da Formosíssima Maria (Dona Maria, Rainha de Castela), filha do Rei D. Afonso IV de Portugal, que se deslocou à corte portuguesa para solicitar a seu pai que auxiliasse o marido na Batalha do Salado. Reza a lenda que a Rainha se encontrava neste local, nas imediações de Terena, quando recebeu a boa notícia, tendo aí nascido a invocação “Boa Nova”. O culto prevalece bastante vivo, sendo este santuário palco de uma grande romaria que se celebra no primeiro fim de semana posterior à Páscoa. A importância desta romaria na região é de tal importância que a Segunda-Feira de Pascoela (dia principal da festa) é o feriado municipal do Concelho do Alandroal. O Santuário de Nossa Senhora da Boa Nova foi classificado Monumento Nacional em 1910.



Visita com o Professor Moisés Espírito Santo,
no âmbito do 1.º Congresso Internacional 'Santuários'
Alandroal, 12 de Setembro de 2014
Sala dos ex-votos