Castelo dos Mouros | Arrábida




O “monte fortificado” do Castelo dos Mouros, também conhecido no final do século XIX por “Jogo dos Mouros”, foi o primeiro povoado da Idade do Bronze identificado na Arrábida (Rasteiro, 1897), e será, até ver, o mais imponente e inexpugnável do ponto de vista defensivo, tanto no aproveitamento das condições naturais, como nas estruturas defensivas edificadas – «parece de uma só pedra, é nu, alveja ao longe como lençol gigante estendido na serra (...). Umas construcções eyclopicas, que no monte existem, e apresentam toda a rudez dos tempos prehistoricos (...). Poderá ter-se a construcção como lugar fortificado dos mais antigos e incultos habitadores da peninsula da Arrabida» (Rasteiro, 1897, p. 33).

Implantado no monte de Alvide ou Olivide, trata-se de um «local elevado, em crista, de difícil acesso, com óptimas condições naturais de defesa, situado na encosta norte da Serra da Arrábida», fornecendo, em prospecções de superfície, «fragmentos de cerâmica atribuíveis ao Bronze Final, mas desprovido de ornatos brunidos» (Silva e Soares, 1986, p. 129; Ferreira et al., 1993, p. 271-272).

Recentes visitas (a partir de Dezembro de 2010) no âmbito da Carta Arqueológica da Arrábida/Setúbal, conduzidas por Manuel Calado e publicadas no blog Arqueologia da Arrábida (link) permitiram uma melhor e merecida caracterização do sítio.

O povoado eriça-se num esporão calcário «de perfil assimétrico, delimitado a Sul por um paredão vertical que atinge vários metros de altura e, a Norte, por uma encosta de rocha nua, muito inclinada». As naturais condições de defesa e domínio paisagístico foram reforçados por um circuito amuralhado, edificado com o recurso a aparelho ciclópico, sobretudo do lado Norte. No lado Sul, a muralha ainda atinge os 1,70 metros de largura – «se pelo norte é inaccessivel, pelo sul protege o terrapleno a muralha natural, que forma a crista do monte» (Rasteiro, 1897, p. 33).«O acesso actual ao Castelo dos Mouros mantém, provavelmente, o traçado de um dos acessos proto-históricos. Em alguns pontos são notórios os agenciamentos» (Blog Arqueologia da Arrábida).
O recinto fortificado sugere três entradas:
1. No lado Sul – aproveitando uma lacuna no esporão, de provável origem tectónica.
2. No lado Norte – uma interrupção na muralha de cerca de 1 m de largura.
3. Na extremidade SE – parece haver um acesso natural relativamente fácil, junto ao qual foi aparentemente construída uma estrutura defensiva.
No lado Norte, num patamar/talude relativamente plano a meia encosta, resultante da implantação da própria muralha, registaram-se abundantes fragmentos cerâmicos.
De assinalar, ainda, um poço localizado junto da entrada Sul, apresentando um perfil ligeiramente oblíquo, parcialmente colmatado, apresentando ainda uns 7/8 metros de profundidade, além de uma cavidade cársica aberta na base do paredão, constituindo um elemento natural com sugestivo potencial simbólico.
O Castelo dos Mouros materializa na perfeição a ideologia guerreira dos seus construtores, impondo-se enquanto marco conspícuo na paisagem Norte da Arrábida, alcandorado sobre os campos de Azeitão e “dominante” sobre as paisagens do Risco (ob. cit.) Um notável investimento construtivo, até à data sem par em terras arrábidas.


A "monumental porta" Sul - um entalhe natural no esporão
O poço na entrada Sul

Vista Nascente

Vista Poente

Grande megálito ortostático

Muralha Norte - aparelho ciclópico


Entrada Norte - interrupção na muralha com cerca de 1 metro

O patamar/talude


Alguns fragmentos cerâmicos observados


Pequena cavidade de formação tectónica junto do acesso Nascente

Glimpse




A Arrábida no Bronze Final
A Paisagem e o Homem
(no prelo)
Ricardo Soares
(2012)
Dissertação de Mestrado em Arqueologia
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa

Bibliografia:
FERREIRA, C. J. A.; LOURENÇO, F. S.; SILVA, C. T.; SOUSA, P. (1993) – Património Arqueológico do Distrito de Setúbal. Subsídios para uma carta arqueológica. Setúbal: Associação de Municípios do Distrito de Setúbal.
RASTEIRO, J. (1897) – Notícias archeologicas da Peninsula da Arrábida. O Arqueólogo Português. Lisboa, vol. III.
SILVA, C. T.; SOARES, J. (1986) – Arqueologia da Arrábida. Parques Naturais. Lisboa: Serviço Nacional de Parques, Reservas e Conservação da Natureza, 15.

Links: